Mas reitera que o processo avançará apesar da negativa do Congresso à consulta catalã
Deixa un comentariPublicado originalmente em catalão em 09/04/2014
Artur Mas compareceu na Sala Gótica do Palácio da Generalitat (governo da Catalunha), logo assim que o Congresso dos Deputados consumou a negativa em ceder a competência às instituições catalãs para organizar a consulta de 9 de novembro (9-N). Era uma negativa prevista, de modo que o presidente teve todo o tempo disponível para preparar seu discurso. A mensagem teve duas ideias-chave: o processo “seguirá em frente”, apesar do ‘não’ de Madrid, e a Catalunha permanecerá com a “mão estendida” às instituições do Estado. “Isto não é um ponto final, mas o início de um novo parágrafo”, enfatizou o líder de CiU.
Mas adverte, há semanas, que a recusa do Congresso não altera os planos dos partidos soberanistas. Na verdade, de acordo com os estrategistas do Palácio, o ‘não’ da câmara baixa espanhola era esperado desde o início, e, portanto, levar a consulta ao Congresso era uma maneira de armar-se de legitimidade. E que ficasse obvio que nem o PP nem o PSOE pretendem validar o referendo. Esta recusa, portanto, abre uma nova fase no processo, em que a Catalunha tomará a iniciativa de legislar para celebrar o 9-N. “A partir de agora, as instituições catalãs visarão a construção de marcos legais para poder realizar a consulta”, alertou Mas ontem. Este aviso se consumará em setembro, quando o Parlamento da Catalunha aprovará uma lei de consultas que definirá o marco legal em que se enquadrará o referendo.
Na verdade, será em setembro quando se precipitarão todos os acontecimentos. À lei de consultas somar-se-á a convocatória do 9-N – agendada para depois da “Diada” de 11-S (dia nacional da Catalunha), que voltará a ser reivindicativa por dois motivos: primeiro, pelo fato de ser no mesmo ano em que se comemora o Tricentenário de 1714 (quando a Catalunha perdeu a sua soberania, após uma derrota militar contra a Espanha); e segundo, pela mais do que previsível impugnação, por parte do Estado, da futura lei de consultas e da convocatória do 9-N. Será então quando se tornará evidente o choque de legitimidades entre o Parlamento e o Congresso, entre a Generalitat e a Moncloa.
Oportunidade perdida
Que a recusa fosse esperada, não significa que não causasse certo disgosto a Mas. “Perdeu-se mais uma chance. Não quiseram aceitar a nossa mão estendida”, apontou o presidente, embora fez questão de insistir que esta mão estendida continuará ao longo dos próximos meses. A predisposição da Generalitat ao diálogo é “total”, segundo afirmam sempre os conselheiros (secretários de governo) e o próprio presidente. No entanto, o governo espanhol considera que para sentar-se a negociar é preciso primeiro abandonar a consulta. E esta possibilidade, em Palácio, não tem sido sequer levada em consideração.
O presidente Mas quis explicar a recusa de Madrid, especialmente a do PP e do PSOE, os principais partidos na câmara baixa e aliados na hora de lidar com questões que afetam a soberania espanhola – com base no seguinte argumento: “Eles temem que o povo da Catalunha vote”. “Você não pode forçar alguém a fazer algo que não quer fazer, especialmente se esse alguém é mais poderoso que você”, argumentou o líder do CiU. No discurso, também considerou que os principais partidos espanhóis “estão em falso” no debate soberanista catalão.
O presidente quis mostrar que havia mais partidos no Congresso que apoiaram o texto do Parlamento, mas que aqueles que votaram ‘não’ tiveram maior representação. “São apoios importantes”, considerou Mas. “Havia vontade de pacto e negociação”, insistiu o líder de CiU, que não compareceu à câmara baixa espanhola argumentando que a proposta saia do Parlamento e que não cabia a ele defendê-la. Esta circunstância foi utilizada por PP e UPyD, que não pouparam fortes críticas a Mas.
Uma das obsessões do presidente é que os representantes catalães mantenham um tom cordial diante da opinião pública e que não caiam nas provocações oriundas do Estado. É por isso que Mas aproveitou sua intervenção institucional para “agradecer” aos representantes catalães a “boa imagem” que transmitiram das demandas catalãs. “Foi empregado um tom construtivo e cordial, sem faltar à educação”, considerou o líder de CiU. A sua marca foi notada no discurso de Jordi Turull, deputado catalão que formou parte da delegação do Parlamento que defendeu a consulta no Congresso dos Deputados. No discurso de Turull aparecem as mesmas nuances fornecidas pelo próprio Mas em sua intervenção posterior.
Notícia de Ara.cat