CATALUNHA x ESPANHA: HISTÓRIA DE UMA DESAFEIÇÃO (4ª parte)
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O catalão, falado desde a Idade Média em toda a Catalunha, começou a perder espaço para o castelhano na nobreza local, na época dos Reis Católicos. E após a derrota de 1714, foi sendo marginalizado pelo Estado. Contribuíram, para tanto, restrições ao seu uso na administração e na vida pública, tornando o castelhano a língua de prestígio e ascensão social.
Mas no século dos nacionalismos (XIX), o catalão ressurgiu como língua culta. Houve um movimento que promoveu seu renascimento cultural (renaixença) com concursos de literatura, assim como o resgate dos autores clássicos e as obras medievais.
No início do século XX, o catalão foi normatizado com a edição de um dicionário e uma gramática. A co-oficialidade da língua finalmente foi alcançada com o Estatuto de Autonomia, de 1931, numa Espanha já republicana. Mas foi uma ilusão intercalada entre duas ditaduras militares na Espanha, a de Primo de Rivera (1923-1930), e a de Franco (1939-1975), em que houve forte repressão cultural contra o catalão e os partidos catalanistas.
Nos anos 50 e 60, grandes levas de pessoas procedentes das regiões mais pobres da Espanha foram para a Catalunha, em busca de um futuro melhor, intensificando o movimento migratório iniciado no século anterior. O que contribuiu para que o espanhol se tornasse preponderante na Catalunha, ao longo do século XX.
No pós-Franco, o governo da Catalunha iniciou estratégias para garantir a oxigenação do espaço social da língua do país. Começaram as transmissões em catalão em meios de comunicação públicos (TV e Rádio), que garantiram a normalização lingüística, diante um mercado hegemonicamente em castelhano. E apostou-se num modelo de ensino público de imersão lingüística, de modo que o catalão pudesse ser compreendido e aprendido por todos, mesmo que a língua coexistisse nas ruas com o castelhano.
A sentença do Tribunal Constitucional contra o Estatuto da Catalunha, de 2010, ataca de forma especial este modelo de ensino, estabelecendo que o catalão não deve ser a língua “preferente” na administração, nem a veicular no sistema de ensino, como se pretendia.
O catalão hoje tem aproximadamente 10 milhões de falantes, espalhados pela Catalunha e outros territórios da Espanha (País Valenciano, Ilhas Baleares e numa faixa de Aragão), no departamento dos Pirineus Orientais (sul da França), em Andorra e no Alguero (município da Itália). Mas a Espanha não permite que a língua catalã tenha caráter de oficialidade na União Europeia. Hoje, das 24 línguas oficiais na UE, onze têm um menor número de falantes do que o catalão, como o búlgaro, o croata, o eslovaco, o dinamarquês, o finlandês, o lituano, o esloveno, dentre outras.