Da Catalunha para o Mundo

Blog da Taíza Brito e do Gerard Sauret

Brasil e Catalunha: os 4 dias que separam Brasília de Barcelona

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SE MADRI NÃO QUER OUVIR, CATALUNHA FALA AO MUNDOO texto abaixo, escrito pelo brasileiro Matheus Graciano, em seu blog pessoal, mostra o clima que tem sido observado pelos turistas que passam por Barcelona, nos últimos anos, onde cresce o sentimento de liberdade e fervilha o espírito independentista. Trezentos anos depois da queda diante das tropas espanholas, os barceloneses lutam pelo direito de decidir sobre a soberania, o que pretendem fazer em referendo previsto para o próximo dia 9 de novembro. Para tanto, mostram ao mundo que já está na hora dese separar da Espanha, como aconteceu no último dia 11 de setembro, quando quase dois milhões de pessoas foram as ruas gritar por independência. No texto, o blogueiro, que esteve em Barcelona na Diada de 2013, também faz uma comparação com o Brasil. Vale a pena a leitura!

Por Matheus Graciano, no blog do mesmo nome

Em Praga, depois de uma boa andada pela cidade, chego no hostel. Abro a porta e me deparo com um grupo, um bonde de 6 cidadãos, para ser mais preciso. A gente começa a trocar aquela ideia básica de viajante. Pergunto de onde eles são e a resposta vem sonora: Barcelona. De cara, digo que podem falar espanhol, porque sou do Brasil (portunhol é nóis!). A feição muda e os rostos ficam felizes rapidamente. Às vezes, acho que Brasil é uma palavra meio mágica. Papo vai e comento que tinha passado por lá semanas antes, justamente no dia da comemoração. Me perguntam o que achei. Aí, eu lanço: “tá na hora de ser independente já! Catalunha livre.” Cara… só vejo aqueles olhinhos brilhando e falando uns para os outros: “Ele também é independentista!” Se abraçaram e começaram a cantar uma canção da Catalunha… o sentimento nacionalista toma conta do ambiente.
Dia e hora certa
No dia 11 de setembro de 1714, a Catalunha abdicou de sua independência, rendendo-se ao poderio militar castelhano. Hoje, o “estado autônomo” faz parte do território espanhol, mas a independência é um sonho de muitos catalães. O feriado comemorativo no dia fatídico faz todo o sentido, lembrando que é preciso recordar o que você já foi e sofreu quando tudo mudou.
Até um dia antes de chegar lá, não fazia a menor ideia do que iria acontecer. Graças à tevê madrilenha, onde estava antes, fui entrando no clima. Chegar em Barcelona num 11 de setembro foi curioso. Avião desceu, pegamos o trem, deixamos as coisas no hostel e partimos pra rua.
Vou te falar que eu ainda estava naquele clima de junho (2013). E tudo quanto era manifestação popular me interessava (Vide a experiência da Turquia). A questão catalã se adensou ainda mais após a crise econômica que pegou a Europa em cheio. Mais do que nunca, o sentimento separatista está ativo. Afinal, nada melhor que mexer no bolso pra causar uma boa confusão.
Chegamos no momento em que lançavam o tricentenário, iniciando o marco dos 300 anos que se completam em 2014. O que se via nas ruas era um sentimento difícil de mensurar. Casas e prédios com as bandeiras na janela, crianças, adultos, cachorros, todos vestidos de vermelho, amarelo e seu detalhe azul, identificando um lugar que só eles sabem o que significa. Apesar de todo o impasse com Madrid, há uma expectativa de que se faça uma consulta popular sobre a liberdade do território ainda em 2014.
Ter vivido e lembrar de tudo isso só me trouxe uma questão: e nós?
Nosso 7 de setembro
Quatro dias antes das comemorações Catalãs, temos a nossa. Conta a lenda que em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil, montado em seu cavalo às margens plácidas do rio Ipiranga. Não teve luta armada, conflitos difíceis, nada muito tenso, comparado a outras independências.
Temos diversas questões que nos afastam dessa data de “unificação nacional”. Abordá-las é algo que prefiro deixar para os livros de história. Mas o fato mais visível é o resquício histórico do forte envolvimento militar nas paradas cívicas, que para mim é um entrave nesse “abraço popular”. Não consigo ver uma aproximação real das pessoas com um tanque do exército passando no meio da rua. Pelo contrário, há um abismo, dando a entender que aquela comemoração não é do povo, e sim de uma instituição.
Aliás, vale lembrar que nossas duas “datas cívicas”, 7 de setembro e 15 de novembro, são referentes à acontecimentos que pouco tem a ver com participação popular. Pelo contrário, a lógica de “fazer a revolução antes que o povo a faça” parece ser um mantra nas reviravoltas históricas brasileiras.
É lógico que os momentos que Brasil e Catalunha passam (e passaram) são completamente diferentes. Mas sentir o “clima de copa” num dia nacional é algo valioso. Ver que isso faz parte da cultura e do ‘dna’ catalão me dá uma certa tristeza conosco, pois aqui precisamos aguardar 4 anos para que isso chegue novamente. E pior, esse motivo, o futebol, está se esforçando para se tornar cada vez mais fútil. Sim, infelizmente.
Enquanto isso, numa força inversamente proporcional, a marca Brasil torna-se forte fora das linhas imaginárias que nos dividem do mar e da América do Sul. O fruto disso é aquele sorriso expontâneo que relatei lá no primeiro parágrafo, entre tantos outros quando se fala da pátria verde amarela para alguém que não é daqui.
Comparar dois territórios tão diferentes entre si, como Brasil e Catalunha, é irrelevante. Mas lembrar que é possível construirmos sentimentos de integração nacional, assim como esse território que ainda não é um estado independente, sim é possível. Talvez assim, o respeito dos cidadãos com o lugar onde moram torne-se cada vez mais sólido e verdadeiro. Por mais repetitivo e clichê que seja a frase, precisamos de menos carros de guerra e mais gente de paz.
Ah, esqueci de dizer uma coisa: Viva Catalunha!

Aquesta entrada s'ha publicat en Blogs diversos el 13 de setembre de 2014 per TaizaBrito

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