No dia 21 de outubro na Galiza temos eleições autonómicas mais uma vez. As anteriores foram marcadas por um debate aceso em torno da língua, porém nestas tudo indica que a questão idiomática vai ficar de lado…
A seguir e partindo dos programas, analisaremos brevemente o posicionamento linguístico das principais candidaturas. Permitam-nos para isso brincar um pouco com o título do ensaio de Valentim R. Fagim e José R. Pichel, O Galego é uma Oportunidade, já referido no nosso último artigo.
Feijóo, o atual presidente da Junta da Galiza, separou-se há tempo daquela antiga amante bilíngue, Gloria Lago, agora em braços do sedutor Mário Conde. Paralisado o movimento normalizador (A Mesa et al.), vítima das crises internas do nacionalismo, Feijóo não teve nos últimos tempos oposição real ao seu “bilinguismo cordial”, o eufemismo com que esconde as suas políticas desgaleguizadoras. E, ó surpresa, Feijóo, qual Saulo a cair do cavalo, está a descobrir o reintegracionismo. Primeiro foi aquela entrevista em Intereconomía e agora o programa do PPdeG, onde se fala de “projetar o galego como uma língua moderna e vital cheia de possibilidades que nos permite comunicar-nos com mais de 270 milhões de pessoas de países lusófonos em todo o mundo”, também de “fomentar com medidas ativas a aproximaçom dos países da Lusofonia, graças às grandes oportunidades que nos brinda o português como língua internacional intercompreensível com o galego”. Em resumo, O Galego é uma Oportunidade… para os negócios internacionais.
O galego do Pachi, o do PSOE, rivaliza em castelhanismos com o do Feijóo e não saberíamos dizer qual deles alcança uma pior qualidade. Foi infundado o rumor (saído de fontes próximas do partido) de que copiaram parte do programa linguístico do livro O Galego é uma Oportunidade. Lemo-lo inteiro e não conseguimos encontrar esses trechos. O tal programa, cheio de obviedades politicamente corretas, conclui que o galego é “património linguístico espanhol”. Pois, como era de esperar.
Jorquera, o do BNG, nasceu ferrolano e, portanto, castelhano-falante. Mas converteu-se ao monolinguismo galego numa adolescência revolucionária e patriótica. Lembramo-lo imberbe nos Maristas da Crunha a traduzir uma prova do latim… diretamente para o galego! Foi na altura um ato heroico. No programa do BNG falam “de promover o estudo da língua portuguesa nos centros de ensino”, nomeadamente nas Escolas Oficiais de Idiomas e, mais vagamente, como noutras ocasiões, “duma política ativa de intercâmbio e promoção de produção cultural entre a Galiza, Portugal e o resto dos países de expressão galego-portuguesa, em busca da normalização e internacionalização da cultura expressada no nosso idioma.”. Ai! Parece que não se atreveram a dizer às claras que O Galego é uma Oportunidade, talvez porque na UPG (a “vanguarda” da frente) são demasiado conservadores. Ora bem, o que não esqueceram foi a defesa do “nosso idioma” no “Vale do Elhas (Estremadura)”… Ainda não sabem que o que se fala no Vale do Elhas (Xalma, Cáceres) são dialetos portugueses, como em Almedilha (Salamanca), na região de Alcântara (Cáceres e Badajoz), em Olivença (Badajoz) ou em Calabor (Samora)? Então o que é galego e o que é português?
O irmandinho Beiras, agora fora do BNG e unido aos independentistas de Ferrín e aos comunistas espanhóis na Alternativa Galega de Esquerda (AGE), mamou a língua numa família galeguista da pequena burguesia compostelana. Fala um galego hiperenxebre que nos traz saudades da Geração Nós e das assembleias universitárias de 68. Na sua genialidade, o Beiras vê que O Galego é uma Oportunidade para reinventar o idioma em cada frase… O programa linguístico da AGE, escasso… sete, nove palavras, “defesa ativa” (…) “contra as agressões continuadas à nossa língua”. E não há mais.
Bascuas é o candidato de “Compromiso x Galicia”. Uns veem no nome escolhido para este novo partido (a maioria também cindidos do BNG que pretendem construir um centro galeguista) um canto ao “bilinguismo cordial” e outros uma homenagem à normativa oficial (a dos “x” em toda a parte e o “grazas Galicia”). No entanto, nas suas propostas programáticas falam de que “devemos desenhar uma estratégia atualizada para somar o maior número de segmentos sociais à defesa da nossa língua, e que aproveite as oportunidades de pertencer ao sistema linguístico galego-português” e também “Galiza precisa de jeito imediato uma Agenda de Política Exterior que promova o papel e os interesses da Galiza no mundo, aproveitando os vínculos da emigração exterior e valorizando a nossa língua, como instrumento especialmente útil no âmbito linguístico galego-português”. Leram O Galego é uma Oportunidade.
O Conde era galego e quase ninguém sabia… Mario comprou um paço e regressou à terra com sotaque galego um bocado (peri)patético (à moda Xan das Bolas). Soubemos por ele que a sua mãe, nascida numa aldeinha de Covelo e educada em Lisboa, continua a falar-lhe “galego-português”… e, que curioso!, entendem-se sem problemas. Mais ainda, o Mário também proclama que O Galego é uma Oportunidade para o relacionamento com a Lusofonia “se formos capazes de reconstruir o galego”. Mas isto são apenas palavras, por escrito a mensagem do partido centra-se na defesa do supostamente ameaçado castelhano e assim afirmam que “as outras línguas espanholas gozarão de proteção estatal, podendo ser objeto de ensino e aprendizagem como segunda língua à eleição dos progenitores, mas nunca em detrimento do idioma oficial de Espanha”.
Existem ainda outras formações políticas muito minoritárias. Uma delas, o Partido da Terra, usa o Acordo Ortográfico sempre, sendo por este motivo denegada a validez dos seus boletins de voto, polo que apresentaram um recurso perante a Junta Eleitoral.
Se não estivéssemos na Galiza (onde nada é o que parece), ninguém conseguiria entender que os candidatos mais espanholistas proclamem sem rebuço que O Galego é uma Oportunidade. Cousas vereis!
http://www.youtube.com/watch?v=MqQVCQehCqs&feature=related
http://www.xunta.es/linguagalega/galego_chave_negocios
http://canletv.agadic.info/curta/entre-linguas/
http://www.teleminho.com/ (eleições galegas 21O, Mario Conde, parte C, 7’57”)
Claro que, como diz o povo, o falar não tem cancelas.
Us ha agradat aquest article? Compartiu-lo!