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Blog da Taíza Brito e do Gerard Sauret

Presidente catalão admitiu não haver maioria a favor da independência?

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Será mesmo que o presidente da Catalunha admitiu não haver maioria a favor da independência? Ou foi uma pequena escorregada na linguagem numa entrevista ao vivo e em inglês com a experiente jornalista da CNN Christiane Amanpour? A matéria, produzida em português por Pedro Cordeiro e divulgada pelo site EXPRESSO, parece ter sido baseada em informações do espanholista e conservador jornal ABC. Tal conjectura fundamenta-se na leitura de outra breve matéria da PINN (Portuguese Independent News Network), publicada também ontem, com uma manchete muito semelhante e cuja fonte é declaradamente o ABC:

ARTUR MAS ADMITE QUE MENOS DE METADE DOS CATALÃES APOIA A INDEPENDÊNCIA

Para diuscutir com maior embasamento a realidade demoscópica sobre a intenção de voto dos catalães, num eventual referendo pela independência da Catalunha, redireciona-se o leitor para um post anterior deste blog, que discutia precisamente as diversas interpretações acerca desses sempre polêmicos números.

Claro está que quando se afirma “não haver maioria a favor da independência” ou que “menos da metade dos catalães apoia a independência”, nessa conta podem estar incluídos os que não necessariamente são contra a independência. Isto é, os que não sabem ou não querem responder (indecisos) e os que não irão votar num eventual referendo: porque não podem ou não querem votar. Então, se considerarmos apenas os votos válidos, certamente sim que existe uma maioria democrática disposta a votar a favor da independência.

 

EXPRESSO

Publicado originalmente em 23/06/14

PEDRO CORDEIRO

PRESIDENTE CATALÃO ADMITE NÃO HAVER MAIORIA A FAVOR DA INDEPENDÊNCIA

Em entrevista à CNN, Artur Mas diz que só o referendo permite saber ao certo quantos catalães querem deixar de ser espanhóis.

O presidente do Governo catalão admite que não há na região uma maioria de cidadãos a favor da independência. Em entrevista recente à CNN, Artur Mas respondeu em inglês à veterana jornalista Christiane Amanpour. Quando esta lhe disse ter lido que nem metade dos catalães querem deixar de ser espanhóis, respondeu com um “isso é verdade…”. O líder nacionalista insistiu, porém, que só fazendo um referendo se saberá quantos estão de um lado e de outro da barricada. Além disso, disse, há uma “maioria ampla” a favor do referendo.

O dirigente foi entrevistado em Madrid, onde se deslocara para assistir à proclamação do rei Felipe VI, de quem afirmou esperar que possa vir a “mediar o conflito entre a Catalunha e Espanha”. Por vezes atrapalhado perante a incisiva Amanpour – que, ironicamente, se enganou e lhe chamou sempre “Arturo”, versão castelhana do seu nome próprio -, Artur Mas não explicou que vantagens traria a secessão. Traçou dois cenários para o referendo, agendado para 9 de novembro, e que o Governo espanhol considera ilegal: na melhor das hipóteses, Madrid “tolera” que os catalães exprimam a sua vontade; na pior, pede ao Tribunal Constitucional que revogue o referendo.

A consulta não tem, de facto, cabimento na Constituição espanhola, pois só o Parlamento central tem competência para convocar referendos e atualmente o Partido Popular (de direita, no poder), que é contra o referendo catalão, tem maioria absoluta. No Parlamento regional catalão, com outra composição, dois terços dos deputados apoiam “o direito a decidir”. Artur Mas disse, na entrevista, que é o “momento adequado” para ouvir os cidadãos.

O presidente catalão não vê problema em redesenhar fronteiras na Europa. Assegurou a Amanpour que “a Catalunha nasceu há mil anos” e sempre superou os seus problemas. Inquirido sobre o referendo à independência marcado para 18 de setembro na Escócia – que difere do catalão porque foi autorizado pelo Governo do Reino Unido -, diz esperar que vença o “sim”, pois isso “daria força” à causa catalã.

Os próximos dois meses serão de intensas negociações, a maioria nos bastidores e possivelmente com um papel discreto para o rei Felipe VI (desprovido de poderes executivos), que visitará a Catalunha muito em breve. Já o primeiro-ministro espanhol afirmou estar disposto a dialogar com Mas se este prescindir do referendo nos termos em que atualmente está colocado. “Sempre estive disposto a ouvir, mas se o que ele quer é obrigar os demais a fazerem o que ele disser, vai ser muito complicado, porque é manifestamente ilegal”, disse Mariano Rajoy.

“Se tem outra coisa a propor que o faça, mas até agora a única coisa que pôs em cima da mesa – e sem falar, porque o fez unilateralmente – foi a convocatória de um referendo”, acusou Rajoy. “Se agora o senhor Mas não quer fazer esse referendo, que sabe que é ilegal, porque toda a gente já lho disse, estou disposto a ouvi-lo”.

A linha vermelha do primeiro-ministro conservador, que não admite ceder um milímetro, é a Constituição. Rajoy lembrou que o Parlamento nacional e o Tribunal Constitucional já disseram que não pode haver consulta na Catalunha.

Aquesta entrada s'ha publicat en Expresso el 25 de juny de 2014 per TaizaBrito