Da Catalunha para o Mundo

Blog da Taíza Brito e do Gerard Sauret

Catalunha x Europa: Quem tem medo de quem?

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Carlos Loures, do blog A Viagem dos argonautas, tem nos brindado este ano com, pelo menos, dois instigantes editoriais em que tem criticado o fato de políticos europeus exibirem pobreza argumental para se opor à celebração de um referendo na Catalunha para decidir seu futuro político.

No editorial mais recente, Loures debruçou-se sobre a formação histórica dos estados alemão e espanhol para interpretar que o posicionamento da chanceler alemã, Angela Merkel, “revela uma total ignorância ou um significativo desprezo sobre as realidades históricas” próprias e alheias.

No editorial anterior, de cinco meses atrás, Loures criticou o belga Van Rompuy, na época presidente do Conselho Europeu, por ameaçar a Catalunha de ser expulsa da União Europeia, caso decida pela independência, arrogando-se, assim, o papel de juiz supremo, capaz de proibir ou autorizar independências. Um poder, que não está, de fato, nas mãos de ninguém…

 

EDITORIAL – QUEM TEM MEDO DA CATALUNHA?

30 de agosto de 2014

A chanceler alemã, Angela Merkel, numa mesa redonda realizada em Berlim, respondendo a uma pergunta de um jornalista espanhol, exprimiu o seu apoio ao governo de Madrid, que procura bloquear um referendo pela independência da Catalunha.  Merkel sublinhou que existe diferença entre conceder autonomia a regiões e permitir que um país seja dividido. Claro que existe uma acentuada diferença – mas a questão central é – será a Espanha um país? E a Alemanha, será um país?

No século XIX, há quem diga que por influência do Romantismo na política, com a recorrência dos exemplos clássicos e o esplendor heróico das encenações operáticas, houve a tentação de criar grandes espaços, de juntar países e de criar novos estados imperiais. A realidade é um pouco diferente – o século foi  simultaneamente marcado pelo declínio de impérios como o Sacro-Império, extinto por Napoleão em 1806, espanhol, o português, o francês, agonizante com a derrota da ideia imperial de Napoleão, e pelo nascimento de novos impérios – o britânico, o germânico e, no chamado novo Mundo, o império dos Estados  Unidos. O século, embalado pela música dos grandes compositores, explodia em novas realidades científicas, tecnológicas, num quadro social que, por exemplo, ia abolindo a escravatura, mas criava legislação laboral que permitia uma exploração intensiva da força do trabalho, em muitos aspectos mais desumana do que a escravatura.

Espanha, em plena decadência do seu império, formalizara em Cádis, nas Cortes de 1812, o que no apogeu não institucionalizara – a criação do Estado espanhol, transformando em regiões as nações submetidas a Madrid. A Catalunha, com uma história, uma cultura e um idioma próprios, via-se reduzida à condição de província.

Na Alemanha, desde o Congresso de Viena, em 1815, que a Prússia diligenciava a criação de uma Confederação Germânica. A hegemonia prussiana que serviria de cimento a uma unificação alemã, provocou até meados do século revoluções nacionalistas e de recorte liberal que, no entanto, fracassaram. Até que, após a vitória da Prússia sobre a França propiciou em 1871  a criação do Império Alemão. Os resultados da unificação alemã foram trágicos para a Europa e para o mundo – duas guerras globais no espaço de três dácadas, provocaram muitos milhões de mortos. Derrotada, a Alemanha, teria sido de elementar precaução dos Aliados, redesenhar a geografia germânica, restituindo a soberania a países como a Baviera. Em Espanha, teria sido avisado, além de destituir, julgar e executar os criminosos apaniguados de Franco, devolver a independência perdida pela Catalunha em 1714.Porém, a vitória dos Aliados, foi tão-somente a vitória de um capitalismo menos sinistro. Os interesses fulcrais do sistema tinham de ser preservados. E foram.

Revelando uma total ignorância ou um significativo desprezo sobre as realidades históricas, usou como exemplo o sistema federativo na Alemanha, dizendo que concede a Estados e municípios bastante espaço para tomarem as suas decisões, mas sem pôr em causa a “integridade territorial geral”. […] “partilho a opinião do governo espanhol”.

Porém, informou Angela Merkel, “não me envolvo em questões internas de Espanha”. Claro que não.

EDITORIAL – QUEM TEM MEDO DE VAN ROMPUY?

18 de março de 2014

No dia 11 de Setembro, passam 300 anos sobre a batalha de Montjuic, acontecimento decisivo para a perda da independência formal de que a Catalunha usufruía. Na guerra da Sucessão, os catalães apoiavam a Casa de Áustria, os Habsburgos, a que se opunham os apoiantes de Filipe V de Bourbon. Após heroica resistência catalã, em 14 de Setembro de 1714, as forças bourbónicas venceram. As represálias não se fizeram esperar – o uso do idioma catalão foi proibido, as universidades catalãs encerradas…

Mariano Rajoy,  presidente do Governo espanhol, recusa liminarmente a possibilidade de se realizar na Catalunha uma consulta popular sobre a recuperação da independência da Catalunha– “Essa consulta é inconstitucional  e não se irá fazer”. Hermann Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, apoia esta posição centralista: “Se uma parte se torna independente, sai da União Europeia”. A posição de Rajoy é normal, ainda que irracional – como pode a lei fundamental de um estado admitir a secessão de uma parte do seu território. Todas as independências são inconstitucionais. A posição de Hermann Van Rompuy  é abusiva – quem o mandatou para proibir ou autorizar independências? Como pode um belga obscuro, de cuja existência a maioria dos mais de 500 milhões de cidadãos da União Europeia nem sequer suspeita, arrogar-se o papel de juiz supremo? Talvez o fantasma da secessão lhe lembre os problemas do seu país, também ele construído como o monstro de Mary Shelley…

A realização do referendo foi anunciada em 12 de Dezembro de 2013 por  Artur Mas, presidente do Parlamento catalão, com o apoio das maioria parlamentar – 88 deputados dos 135 que constituem a Generalitat. O referendo marcado  para 9 de Novembro de 2014 tem uma forma binomial: “Quer que a Catalunha seja um Estado?”; “Se sim, quer que este Estado seja independente?”.

Demonstrando o carácter invulgar da alma catalã, os patriotas elegeram a data dessa derrota como Dia Nacional da Catalunha. O dia em que a nação foi riscada do mapa e transformada numa região do estado espanhol – o dia em que a história da Catalunha foi suspensa  e a partir da qual urge que o povo catalão a retome. É isto que o galego Rajoy não entende ou não que entender e que o tal belga ´van qualquer coisa’ não sabe. Em que documento ou em que base jurídica se apoiaram os Bourbons para anular a independência catalã? Como pode Mariano Rajoy invocar um argumento tão estúpido?

Talvez seja melhor os Estados Unidos voltarem à posse do Reino Unido. A Magna Carta não diz em parte alguma que autoriza a independência das colónias da América…

Aquesta entrada s'ha publicat en Blogs diversos el 1 de setembre de 2014 per TaizaBrito

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