Enquanto Felipe VI visita Catalunha, parlamento da região aprova consulta popular sobre monarquia ou república
Deixa un comentariCom informações da PINN – Portugesse Independent News Network e do jornal PÚBLICO (porRita Siza), publicadas ambas em 26/06/14.
Um dia antes do rei Felipe VI visitar a Catalunha, nesta quinta-feira, 26 de junho, o parlamento daquela comunidade autônoma aprovou a convocação de um referendo consultivo sobre o modelo de Estado, para que a população possa se manifestar se prefere a monarquia ou a república. O projeto recebeu votos favoráveis dos partidos ICV-EUiA, do ERC e da CUP.
Na votação, foram registradas 74 abstenções dos deputados da CiU, PSC e C’s. Com isso, foram necessários apenas 33 votos para que a iniciativa recebesse luz verde. Os 18 membros do Partido Popular catalão recusaram a proposta. O documento que foi a votação critica a celeridade com que se proclamou o novo rei e questiona a sua legitimidade.
Ao mesmo tempo, nas ruas de Barcelona e Girona, houve manifestações contra a visita do rei, num protesto convocado sob o lema “Não ao pacto, não ao rei, o povo catalão é que decide”, numa referência ao direito de decidir sobre a independência da Catalunha, que será votado no referendo que já está previsto para o próximo dia 9 de novembro.
Na Catalunha, onde fez sua primeira visita após assumir o trono espanhol, Felipe VI, aproveitou o discurso na entrega dos prêmios anuais distribuídos pela Fundação Príncipe de Girona. O novo rei disse quer tornar a coroa mais presente na região e também exercer o seu poder de influência para tentar encontrar uma solução para a crise política aberta pelas movimentações nacionalistas.
Há quem veja nessa movimentação do monarca uma forma de influenciar a população da Catalunha a abrir mão do processo soberanista em curso, no qual está em jogo a separação da região do território espanhol. Talvez por isso, ele tenha escolhido a Catalunha como primeiro local a visitar depois da coroação, semana passada.
Felipe VI procurou transmitir uma “mensagem de respeito, entendimento e convivência” entre as diferentes regiões que compõem o país e sublinhar que é nesses valores que assenta o regime de monarquia parlamentar do país.
Sem fazer referência direta às iniciativas políticas em marcha na região para a realização de um referendo para a autodeterminação, Felipe VI considerou que “a colaboração sincera e generosa é a melhor via para responder às legítimas aspirações de cada um e, ao mesmo tempo, de alcançar os grandes objetivos coletivos em benefício do bem comum e do interesse geral”.
Foi a sétima visita de Felipe de Bourbón à Catalunha desde o início do ano: o interesse e assiduidade do monarca têm tudo a ver com os desenvolvimentos políticos e a eventual votação da independência marcada para novembro (um plebiscito que não conta com o apoio de Madri). Além das visitas, tem mantido contatos com políticos e empresários catalães – o rei não tem poderes constitucionais para intervir na questão da soberania, mas parece claro que está ativo em defesa da unidade espanhola.
O discurso foi repleto de elogios ao povo catalão: Felipe VI mencionou o amor à língua e à cultura como uma grande qualidade, e distinguiu o sentido empreendedor e a capacidade de iniciativa, bem como o espírito reflexivo e crítico, que caracterizam “os homens e mulheres da Catalunha” e que, sublinhou, “contribuíram também para o progresso geral da Espanha no seu conjunto”.