Da Catalunha para o Mundo

Blog da Taíza Brito e do Gerard Sauret

A MAIORIA É REALMENTE “CONTRA A INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA”?

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O site do jornal brasileiro Estado de São Paulo, um dos veículos impressos de maior circulação do Brasil, divulgou no último dia 30 de abril matéria oriunda da agência de notícias Associated Press, com o título “Maioria é contra independência da Catalunha”. De acordo com a notícia, uma pesquisa divulgada pelo governo da Catalunha afirmaria que menos da metade da população é a favor da independência da Espanha.

 

A sondagem oficial elaborada pelo Centre d’Estudis d’Opinió (CEO) é a primeira pesquisa que se dirige à população utilizando a fórmula de pergunta anunciada pelo Presidente da Catalunha para a realização do Referendo, previsto para 9 de novembro deste ano (leia matéria sobre o assunto). As perguntas aos eleitores são: se eles querem a Catalunha como um Estado e, em caso afirmativo, se este deveria ser independente. Logo, da combinação dessas duas questões, seguem-se três possíveis respostas: independência (sim-sim); federação da Catalunha com a Espanha (sim-não); manutenção da Comunidade Autônoma da Catalunha dentro da Espanha (não).

 

Segundo o jornal, 57,6% dos entrevistados votariam sim para a primeira questão e, destes, 81,8% também responderam sim para a segunda pergunta. O que daria uma média de 47,1% das respostas a favor da independência sobre o total dos entrevistados. E completa dizendo que a sondagem foi realizada com dois mil catalães, com uma margem de erro de 2,7%.

 

Ora, parece um pouco apressada a conclusão exposta na manchete do Estadão, para quem “a maioria é contra independência da Catalunha”. Pois, entre os que não afirmaram estar a favor da opção independentista nesta contagem deve-se considerar o número de possíveis votos inválidos (abstenção, votos nulos e brancos) e de indecisos (não sabem ainda como votarão), que não necessariamente são contra a independência.

 

Para entender melhor os resultados dos possíveis cenários do referendo, o blog Da Catalunha para o Mundo acessou a sondagem original (em anexo) e preparou os gráficos a seguir. No gráfico 1, aparecem todas as opções de resposta resultantes da combinação das duas perguntas do referendo. A opção a favor da independência (respondeu sim-sim às duas questões) é claramente majoritária entre os entrevistados, com 47,2% das respostas. A opção contrária à independência se subdivide entre os que responderam diretamente não à primeira pergunta (19,3% dos eleitores) e os que propõem um estado catalão, soberano, mas federado dentro da Espanha (responderam sim-não), que agruparia 8,6% do eleitorado.

Essas três opções de resposta constituem 75% dos sufrágios e seriam os considerados votos válidos. Haveria também 12,7% de indecisos, que ainda não sabem como votariam ou não quiseram responder; 11,6% de respostas afirmando que não iriam votar no referendo. E 0,8% de votos inválidos (votos brancos e nulos).

 

Mas se quisermos simular o resultado do referendo, devem se considerar apenas os votos válidos, que, na prática, é como se avaliam as votações em qualquer sistema democrático. Nesse caso, os resultados são mais favoráveis, ainda, à opção independentista majoritária, que aumentaria para 62,8% dos votos válidos (ver gráfico 2), enquanto os votos contrários seriam 37,1%.

Todavia, há quem argumente que devam ser consideradas as respostas dos indecisos e dos que não quiseram responder: o famoso NS/NR. É de se esperar que estes acabem votando em um ou outro sentido, ou inclusive que venham a se abster. Contudo, considerando que todos os NS/NR finalmente votassem massivamente contra a independência, os resultados apontariam que, mesmo assim, essa continuaria sendo a opção vencedora, com 53,8% dos sufrágios (ver gráfico 3).

 

Pode se concluir, então, que a interpretação mais realista da sondagem oficial atual, é que caso o referendo pelo futuro da Catalunha venha a ser realizado, a independência aparece claramente como a opção vencedora em todos os cenários, mesmo aplicando-se as hipóteses mais conservadoras.

Aquesta entrada s'ha publicat en Estado de São Paulo el 4 de maig de 2014 per TaizaBrito

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