Da Catalunha para o Mundo

Blog da Taíza Brito e do Gerard Sauret

A ALEGRIA QUE VILAWEB TRANSMITE

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Recuperamos o recente artigo do jornal português O Público, assinado por Sofia Lorena, em que conta sua experiência em conhecer a loja e a redação do Jornal Eletrônico Vilaweb, em Barcelona, e entrevista seu diretor Vicent Partal. Da crônica da visita, destaca-se a importância das redes sociais e do jornalismo digital para o fortalecimento do movimento independentista catalão nesses últimos anos.

Catalunha: “O movimento independentista transmite alegria e isso é muito difícil de combater”

Público

SOFIA LORENA (em Barcelona) 

Publicado originalmente em 02/02/2014

Madrid podia ter impedido que se chegasse aqui, mas agora, diz Vicent Partal, não há recuo. O director do diário digital Vilaweb não tem dúvidas: os catalães vão mesmo votar para decidir se querem continuar a fazer parte de Espanha.


Para entrar na redacção do VilaWeb não é preciso tocar a nenhuma campainha. Entra-se pela loja e a loja vê-se da rua. A ideia é “vender produtos com ideias”, diz-nos Vicent Partal, fundador e director do VilaWeb. Neste momento, a ideia principal é “a ideia de um país”. As cores não enganam, o amarelo e o vermelho da bandeira estão por todo o lado. Há T-shirts amarelas com uma urna e a palavra “Sim”, o jogo da glória em versão catalã, imãs, livros – um deles é A un pam da la independência, o último livro de Partal – e, claro, a estelada, a bandeira independentista da Catalunha.

Partal gosta deste seu novo espaço, aberto em 2012. Ter uma redacção realmente aberta aos leitores é mais fácil num espaço assim, convidativo e bem situado, no Raval, a dois passos do MACBA, o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. Aqui se fazem cafés semanais com os leitores e com convidados chamados a debater temas da actualidade.

O director do VilaWeb é um pioneiro do jornalismo digital e este diário, fundado em Maio de 1995, foi um dos primeiros digitais do mundo, o primeiro em catalão. Apesar de dizer que os grandes jornais venceram a batalha – “hoje, quando se pensa em jornais digitais pensa-se nas edições digitais dos jornais tradicionais” –, Partal sabe que a guerra continua e o VilaWeb, com um milhão de utilizadores, não pára de lançar novos projectos: para além da televisão e de um programa de rádio, tem uma página com um resumo da semana num jornal em papel, El Punt Avui, e acaba de lançar uma revista para iPad e uma edição em inglês.

Do que Partal mais gosta de falar é do conceito de subscrição. “A informação é toda aberta e igual para todos, é a nossa responsabilidade social, mas pedimos aos mais comprometidos para participarem, pagando, mas não só”, diz. Todos os dias, estes subscritores recebem um email onde se explica “no que é que estamos a trabalhar, quem são os jornalistas” e se pedem correcções e sugestões. O editorial, por exemplo, é publicado em duas versões, a original e a do leitor, que reflecte este diálogo.

As possibilidades abertas pela net e pelas redes sociais mudaram o jornalismo mas mudaram muito mais do que isso. Tanto que, para Partal, o actual movimento independentista catalão não se pode entender sem isso. “A Internet foi determinante para as revoltas no mundo árabe ou para a primeira eleição de Barack Obama. Aqui também. Em todos os países, veio romper com as estruturas tradicionais, faz circular a informação de uma maneira diferente e permite que as ideias aflorem desde baixo”, afirma. “As opiniões dos que estavam mais afastados dos meios do establishment tornaram-se visíveis e isso mudou a percepção social da realidade.”

Em Espanha, e na Catalunha, esse processo foi especialmente importante, defende Partal, por ter coincidido com uma fase importante da transição, do pós-franquismo. “No caso catalão, a coincidência disto com um momento político no qual aparece um objectivo muito nítido – construir uma república – fez com que se disseminasse muito rapidamente.” Na Catalunha, em particular, a Internet contribuiu para dar mais visibilidade ao catalão. Partal não é o único a explicar parte do crescimento do movimento independentista com o reforço do espaço público catalão, um espaço diferente do espanhol que acabou por tornar mais evidentes duas visões distintas da realidade. 

De baixo para cima

“Para mim, o que aconteceu aqui foi que a realidade passou a estar à mostra. O diário La Vanguardia resistiu muito a fazer o jornal em catalão, mas as vendas em catalão superam amplamente as vendas em castelhano. A realidade existia, faltava pô-la a descoberto.” O exemplo do jornal La Vanguardia serve a Partal para desconstruir um dos argumentos mais esgrimidos pelo Governo central. “Em Madrid, há esta teoria de que isto é uma loucura do presidente [da região autónoma] Artur Mas. Isso não é verdade, este é um movimento profundamente de base, das pessoas, que arrasta os políticos. Se não se entende que o que se está a passar aqui é um movimento que vem de baixo então não se entende nada.

Há pouco mais de dois anos, Artur Mas, líder da Convergência, um dos partidos da coligação Convergência e União (CiU), no poder na Catalunha, não era independentista, defendia só que a Catalunha devia ter mais competências e uma relação fiscal mais favorável com Espanha. Tudo começou a mudar na manifestação de 11 de Setembro de 2012, organizada por um grupo de cidadãos, a Assembleia Nacional Catalã. Nesse dia, 1,5 milhões de catalães saíram à rua sob o lema “Catalunha, o novo estado da Europa”.

Artur Mas ainda tentou negociar um novo pacto fiscal, mas o governo do Partido Popular fechou-lhe a porta. Seguiram-se eleições antecipadas: a CiU perdeu votos mas os partidos nacionalistas cresceram. Hoje, Artur Mas governa com o apoio da Esquerda Republicana Catalunha, soberanista, e em Dezembro, quatro partidos aprovaram no parlamento catalão a realização de um referendo sobre a independência, marcado para 9 de Novembro.

Aquesta entrada s'ha publicat en Público el 18 d'abril de 2014 per TaizaBrito

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