Da Catalunha para o Mundo

Blog da Taíza Brito e do Gerard Sauret

CATALUNHA x ESPANHA: HISTÓRIA DE UMA DESAFEIÇÃO (4ª parte)

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O catalão, falado desde a Idade Média em toda a Catalunha, começou a perder espaço para o castelhano na nobreza local, na época dos Reis Católicos. E após a derrota de 1714, foi sendo marginalizado pelo Estado. Contribuíram, para tanto, restrições ao seu uso na administração e na vida pública, tornando o castelhano a língua de prestígio e ascensão social.

 

Mas no século dos nacionalismos (XIX), o catalão ressurgiu como língua culta. Houve um movimento que promoveu seu renascimento cultural (renaixença) com concursos de literatura, assim como o resgate dos autores clássicos e as obras medievais.

 

No início do século XX, o catalão foi normatizado com a edição de um dicionário e uma gramática. A co-oficialidade da língua finalmente foi alcançada com o Estatuto de Autonomia, de 1931, numa Espanha já republicana. Mas foi uma ilusão intercalada entre duas ditaduras militares na Espanha, a de Primo de Rivera (1923-1930), e a de Franco (1939-1975), em que houve forte repressão cultural contra o catalão e os partidos catalanistas.

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Aquesta entrada s'ha publicat en Outros el 8 de juny de 2014 per TaizaBrito

CATALUNHA x ESPANHA: HISTÓRIA DE UMA DESAFEIÇÃO (3ª parte)

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ECONOMIA

 

Beneficiada pela proximidade com os demais países da Europa e por uma divisão de terra equilibrada, a Catalunha despontou na idade moderna como região orientada para a produção e o comércio de mercadorias. No início do século XVIII, a Catalunha tinha entrado na guerra de sucessão espanhola inspirada no parlamentarismo, como modelo de estado, e o mercantilismo industrial, a exemplo de seus aliados: os Países Baixos e a Inglaterra.

 

Mas a derrota definitiva de 1714, com a queda de Barcelona, submeteu o país a um modelo de estado centralista em Madri, de corte francês, e resultou na suspensão das instituições próprias de governo. Na segunda metade do século XVIII, a Catalunha voltou a erguer-se com o crescimento das manufaturas e a produção têxtil, de alimentos e de aguardente, em boa parte graças ao comércio com as Américas, antes proibido pela Espanha.

 

No século XIX, tais condições favoráveis trouxeram a revolução industrial ao nordeste da Península Ibérica. Enquanto a Espanha continuava largamente agrária, com uma aristocracia fazendária e latifundiária, aliada às elites políticas e do Estado, na Catalunha ia se gestando uma sociedade de classes urbana e moderna, com burguesia e proletariado. Esta dissociação entre o poder político, em Madri, e uma parte importante do poder econômico, na Catalunha, é um fator que ajuda a explicar o surgimento do nacionalismo político.


Hoje a Catalunha concentra 16% da população e 20% do PIB da Espanha, sendo considerado o seu principal motor econômico. Paradoxalmente, recebe menos em investimentos e infraestrutura por parte do governo central (11%). O que tem enervado a sociedade catalã, que acusa a Espanha de infligir sistematicamente um déficit fiscal severo (a diferença entre o que se arrecada num território e o que se investe nele), equivalente a 8% do PIB catalão. Este número vai além da solidariedade entre territórios, argumenta o coletivo Wilson, formado por catedráticos de economia. Que afirma ser um índice muito superior do aplicado em outros países nas suas regiões ricas, como Flandes, na Bélgica (4,4%) ou Alberta, no Canadá (3,2%).

 

Com a chegada da crise econômica, em 2008, os ânimos foram se esquentando à medida que o governo catalão viu-se obrigado a fazer drásticos recortes em políticas públicas e estruturas de estado. O que tem comprometido o modelo de bem-estar e o nível de qualidade de vida alcançado ao longo das últimas décadas. O governo catalão, inclusive, viu-se obrigado a pedir empréstimos com juros, à Espanha, para atender aos fornecedores. Nessa conjuntura, a reivindicação pela plena autonomia na arrecadação de impostos, como já acontece no País Basco, ganhou espaço. Mas Madri negou-se a negociar. O que levou o atual presidente  a abraçar as teses soberanistas, em 2012.


CORREDOR MEDITERRÂNEO

 

A crise econômica na Espanha, que se alastra por mais de meia década tem se agravado pelas péssimas estratégias de investimento em infraestrutura sem retorno econômico – como por exemplo,  trens de alta velocidade que conectam províncias improdutivas. Nesse contexto, uma polêmica, a do “Corredor Mediterrâneo”, tem sido outro ponto de fricção entre a Catalunha e a Espanha.

 

Projeto a ser financiado pela União Europeia e pelo estado espanhol, o Corredor Mediterrâneo consiste na criação de um polo logístico que conectará os portos marítimos de Barcelona, Tarragona, Valência e de Algeciras (na Andalusia), mediante ferrocarril, com o centro da Europa. Este projeto permitirá o desembarque e entrega com maior celeridade de mercadorias provenientes da China (através do Canal de Suez), concorrendo diretamente com os potentes portos de Amberes, Rotterdam e Hamburgo.

 

No entanto, o governo da Espanha tem se mostrado reiteradamente reticente em defender o projeto diante das autoridades europeias. E, como alternativa, tem defendido o faraônico “corredor central”, que consistiria em conectar Madri com Paris, furando pelo meio as montanhas dos Pirineus.

 

Mas a obra do Corredor Central, que duraria décadas antes de poder ser inaugurada, é claramente menos eficiente do que a do Mediterrâneo, que aproveita a geografia favorável para o escoamento de mercadorias: o corredor natural a nível do mar que discorre pela costa mediterrânea da Península Ibérica até a França. Ainda, pelo corredor central os trens carregados de mercadorias teriam que superar o desnível existente entre a costa e o planalto de Castela, perdendo, mais tempo e energia.

 

O problema é que o “corredor mediterrâneo” não passa por Madri. Isto é, não se encaixa na concepção radial de infraestrutura que conecta o centro com a periferia, reforçando o poder e a influência da capital no Estado. E, ademais, contribui a estruturar os chamados Países Catalães, ao conectar especialmente a Catalunha com o País Valenciano. O que alimenta o fantasma da ameaça geopolítica à unidade do reino.

 

Recentemente a UE, que só se atende a questões econômicas, já desconsiderou o Projeto do Corredor Central e apostou decididamente pelo “Corredor Mediterrâneo”. Mas a polêmica tem gerado o estupor e a incredulidade entre o empresariado e o conjunto da sociedade catalã, convertendo-se em mais uma prova de que o estado espanhol joga decididamente contra seus interesses. Um estado que gostariam, mas que vêem que não podem chamar de seu.

(CONTINUARÁ 3 de 4) 

Aquesta entrada s'ha publicat en Outros el 7 de juny de 2014 per TaizaBrito

CATALUNHA x ESPANHA: HISTÓRIA DE UMA DESAFEIÇÃO (2ª parte)

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Após um longo período de decadência cultural e gradual recuperação econômica, na segunda metade do século XIX surgiu o nacionalismo catalão como movimento político moderno. E com ele vieram as reivindicações pela autonomia da Catalunha, que foi recuperada pelo breve lapso de 8 anos em que durou a 2ª República Espanhola. É de 1931 o primeiro Estatuto da Catalunha.

 

Mas os convulsos anos 30 trouxeram o golpe de estado dos militares espanhóis, que descambou numa sangrenta guerra civil e no início da ditadura de Franco. Em 1940, Lluís Companys, o então presidente da Generalitat, já no exílio, foi preso pelos nazistas e entregue a Franco. Companys foi o único presidente de governo no mundo democraticamente eleito que foi executado.

 

Com a morte do ditador, em 1975, o grito massivo nas ruas de Barcelona foi “liberdade, anistia e estatuto de autonomia”. No referendo da nova constituição espanhola (1978), que tratava a Espanha como uma nação constituída por nacionalidades históricas e regiões, o povo catalão votou massivamente a favor. E se consumou uma transição pacífica para a democracia.

Com um segundo Estatuto de Autonomia (1979), os partidos catalães no poder contribuíram para a governabilidade política e a estabilidade econômica na Espanha. O que foi moeda de troca para conseguir o direito de administrar a educação, saúde e segurança, entre outras. Mas quando o primeiro-ministro José Maria Aznar (PP) conseguiu a maioria absoluta no Parlamento da Espanha, no ano 2000, houve um movimento recentralizador que ameaçou os poderes dados ao autogoverno da Catalunha.

 

Em 2004, o então presidente catalão, o socialista Pascual Maragall (PSC), propôs a elaboração de um novo Estatuto de Autonomia, que blindasse de uma vez por todas as atribuições do autogoverno e não deixasse margem à recentralização de Madri. E o recém-eleito primeiro-ministro, o socialista José Luis Rodriguez Zapatero (PSOE), aliado do PSC, prometeu que assinaria embaixo o texto que saísse do Parlamento da Catalunha.

 

Na câmara catalã, o documento redigido, que definia a Catalunha como uma nação, foi aprovado por 90% dos parlamentares. O texto seguiu para Madri, onde passou pelo crivo do Congresso e do Senado espanhóis, sendo alterado. Depois voltou para a Catalunha, onde foi votado em referendo e aprovado pela maioria (embora com larga abstenção) da população. Finalmente, Zapatero chancelou o terceiro Estatuto de Autonomia, em 2006.

 

Enquanto isso, o partido na oposição, o PP, iniciou por toda a Espanha uma campanha de coleta de assinaturas para derrubar o novo Estatuto, estimulando um sentimento anti-catalanista. Em 2007, entrou com um recurso no Tribunal Constitucional (TC), que levou três anos para emitir parecer sobre o assunto. Nesse tempo, foram se esquentando os ânimos e azedando as relações entre a Catalunha e a Espanha.

 

O veredicto final da sentença do TC, em 2010, declarava a ineficácia jurídica da definição de Catalunha como uma nação e recortava, mais ainda, certas atribuições de administrar nas áreas de justiça e educação. A classe política e a sociedade catalã vivenciaram todo aquele processo como uma humilhação e recepcionaram a sentença como um ultraje à dignidade.

 

O governo da Espanha coloca a Constituição de 1978 como um muro de contenção contra o independentismo catalão. O texto explicita a impossibilidade de secessão de um território do seu conjunto. Contudo, os catalães lembram que o texto constitucional foi lavrado no ocaso da ditadura de Franco, ainda sob a ameaça do estamento militar. E diante do princípio da legalidade antepõem o princípio anterior da legitimidade democrática.

LÉIA AQUI A 3ª PARTE

Aquesta entrada s'ha publicat en Outros el 6 de juny de 2014 per TaizaBrito

ENTREVISTA DA AGÊNCIA REUTERS A ARTUR MAS PUBLICADA NO ESTADÃO

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Publicado originalmente em 04 de junho 2014

 
LÍDER CATALÃO DIZ QUE PLANO DE REFERENDO SOBRE INDEPENDÊNCIA ESTÁ MANTIDOPor Inmaculada Sanz e Fiona Ortiz – REUTERS BRASIL

BARCELONA, (Reuters) – O presidente da Catalunha, Artur Mas, disse nesta quarta-feira que os habitantes da região têm o direito de decidir sua separação da Espanha e deixou claro que seguirá adiante com os planos para promover um referendo em 9 de novembro, o que o governo central se comprometeu a impedir.
Aquesta entrada s'ha publicat en Estado de São Paulo el 5 de juny de 2014 per TaizaBrito

FILIPE VI E A SECESSÃO CATALÃ

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Pubicado originalmente em 03/06/14

 

FILIPE VI E A SECESSÃO CATALÃ

por João Carlos Barradas

O desafio catalão congrega nacionalistas conservadores e de esquerda, com fortíssima representação republicana.

 A margem de manobra e mediação que o sucessor de Juan Carlos conseguir definir na crise criada pela convocação da consulta popular de 9 de Novembro sobre a eventual independência da Catalunha irá determinar o futuro da monarquia espanhola. (més…)

Aquesta entrada s'ha publicat en Jornal de Negócios el 5 de juny de 2014 per TaizaBrito

BARÇA PEDE ASILO À LIGA FRANCESA DE FUTEBOL ANTEVENDO INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA

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O Barça já estaria arrumando um Plano B caso tenha que abandonar o campeonato espanhol de futebol por conta da independência da Catalunha. É que, de acordo com uma reportagem publicada ontem pela Revista espanhola Interviú (com acesso parcialmente restrito desde a internet), diretores do clube catalão teriam mantido contatos discretos com a Liga Francesa de Futebol para sondar sobre a sua possível inscrição, caso seja necessário. O aviso teria sido dado pelos serviços de inteligência franceses.

Segundo matéria do jornal eletrônico catalão VilaWeb, esta informação confirma os rumores que circulavam por Barcelona nos últimos meses. Apesar de o anterior presidente do F.C.Barcelona, Sandro Rosell, ter se mostrado contrário a esta possibilidade e dito que preferiria continuar jogando na liga espanhola, mesmo depois de uma eventual independência.

Do campeonato francês também participa o Clube Mônaco, time oriundo do pequeno Estado de Mônaco, vizinho da poderosa França. Logo, nessa lógica, haveria um precedente favorável às intenções do Barça.

Aquesta entrada s'ha publicat en VilaWeb el 4 de juny de 2014 per TaizaBrito

LÍDER CATALÃO DIZ QUE MUDA O REI DE ESPANHA MAS NÃO O PROCESSO POLÍTICO NA CATALUNHA

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 Publicado originalmente em 02/06/2014

O presidente do Governo regional da Catalunha considerou hoje que apesar de haver uma mudança do rei de Espanha “não haverá mudanças no processo político catalão” que, considerou, deverá levar a “um voto pacífico” a 9 de novembro.

“Haverá mudança de rei mas não no processo político que o povo da Catalunha está a seguir para que a 9 de novembro possamos decidir o nosso futuro coletivo”, afirmou Artur Mas, numa referência ao referendo sobre a independência catalã, marcado contra a oposição do governo de Madrid.

Aquesta entrada s'ha publicat en Diário de Notícias el 3 de juny de 2014 per TaizaBrito

CATALUNHA x ESPANHA: HISTÓRIA DE UMA DESAFEIÇÃO (1ª parte)

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O Principado da Catalunha, com língua e cultura próprias, tornou-se uma entidade política soberana na Idade Média (séc. X). Por uma aliança matrimonial, Catalunha atrelou-se ao reino de Aragão. Formou-se então a Coroa de Aragão (séc. XII), que reconquistou dos mouros os Reinos de Malhorca e Valência (séc. XIII). Tempos depois, o rei da coroa de Aragão casou com a rainha de Castela e Leão. Foram os chamados reis católicos, que originaram a monarquia hispânica (séc. XV).

 

Em todos esses séculos de uniões dinásticas entre reinos ibéricos prevaleceu um sistema político (monarquia composta) que preservava a soberania das entidades componentes. A Catalunha, por exemplo, manteve desde o início suas próprias leis (furs i constituicions), seu órgão legislativo (les corts), de governo e arrecadação (la Generalitat) e sua identidade. Mas o modelo de estado foi motivo de tensões entre a capital imperial, com pretensões uniformizadoras, e os reinos periféricos ao longo dos séculos XVII e XVIII.

 Em 1640, a Espanha estava em guerra com a França e a Catalunha, na fronteira, era o campo de batalha. As pressões fiscais e presença do exército sobre a população levaram à sublevação. Catalunha se separou por 12 anos da Espanha, buscando abrigo no rei da França. Finalmente, foi reconquistada. Suas constituições foram respeitadas, mas para firmar a Paz dos Pirineus (e como castigo) um pedaço da Catalunha foi amputado e doado à coroa francesa.

Aquesta entrada s'ha publicat en Outros el 2 de juny de 2014 per TaizaBrito